Vamos convir que,
entre todos os eventos que merecem destaque na capa de jornais, dificilmente
deparamos com uma imagem como a de Zero Hora, de 9 e 10 de novembro: as quatro
últimas patronas da 65ª Feira do Livro 65ª Feira, na companhia da escultura de
Drummond e Quintana.
A chamada é tão
incomum que, em segundos, somos transportados para um mundo completamente
diverso daquele que tem nos rodeado. A maioria delas reservam espaço para
futebol, times, jogadores numa faina incessante, até pelo espaço em todos os
meios de comunicação, de comentários e mais comentários como se fosse possível
descarnar uma notícia de tanto mencioná-la. Na verdade, essa tarefa exaustiva
destrói o caráter informativo da notícia e acaba boiando nesse caldeirão de
sentidos, uma verdadeira Torre de Babel, onde cada um tem o seu dicionário,
gerando-se apenas factoides e fakes
News.
Por outro
lado, há uma homogeneidade no modo de
avaliar a realidade cuja natureza responde ao sensacionalismo e ao espetáculo
fato já denunciado por Debov, com seu livro A Sociedade do Espetáculo e por
Vargas Llosa, em Civilização do Espetáculo, definida por Zigmund Bauman como
Sociedade Líquida.
Quando McLuhan
afirmou O Meio é a Mensagem não imaginou os efeitos desse processo, pois o
veículo tornou-se a mensagem, perdendo-se o conteúdo. É um verdadeiro diálogo
de surdos; ninguém ouve ninguém, mas todos falam, falam como se tudo soubessem
e conhecessem. Elimina-se o interlocutor e fica-se com imagens virtuais e
efeitos especiais.
Mas
voltando à capa, aliás, pouco comentada, eu a vejo como um prenúncio de que
haverá uma mudança. Não é um sinal nem de raio nem de trovão, mas um sinal e os
sinais revelam, muitas vezes, os desejos do inconsciente coletivo. Para
decifrá-lo, teremos de procurar vestígios de significação que passam por quem
fez a foto, a reportagem, o editor, a equipe responsável pela publicação e pela
própria Feira que, apesar de ter diminuído, continua ocupando a Praça e
atraindo público. Quem sabe o ícone maior dessa mudança seja o fato de
consagrar como patrona mais uma mulher, substituindo suas três antecedentes que
também ocuparam esse mesmo lugar. Sempre haverá sinais, cabe a nos
interpretá-los. Se o Batman põe a Capa pra combater o mal, nós podemos usar a
Capa da Cultura para combater a desesperança!