terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Velha sem concessões

Eu não preciso usar tatuagens para mostrar que sou jovem, ou provar que sou moderna e estou atualizada. Até porque não sou nem jovem, nem moderna, dependendo do sentido que a maioria dá a moderna, pois, apesar de usado frequentemente como argumento para justificar “mas tudo mudou”, com raras exceções quem o usa sabe definir o que seja. Minhas tatuagens não aparecem na superfície da pele porque estão na alma e no coração e não há idade que as apague.
Eu não preciso ir a bailes de 3ª Idade para provar que vivo ou sei viver. Até porque continuo dançando sozinha ou acompanhada e com as netas. Ensaio para um musical que pretendo fazer e, se não o fizer, não importa, pois o bom mesmo é a combinação.
Não preciso gostar de todas as invenções eletrônicas para provar que estou atualizada, em consonância com o progresso Não preciso saber manipular um celular para mostrar que aprendi alguma coisa na vida e não estou ultrapassada. Não preciso saber lidar com o computador, ou utilizar todos os recursos desse instrumento para me comunicar com as pessoas ou com o mundo. Todo o recurso que não tenha cheiros, toques, alegrias e contradições não é uma comunicação humana. Com a internet, transformo seres em imagens virtuais, mas o que preciso é de gente com cabeça, tronco e membros, alma e coração!
Eu quero estar no lugar em que estou, uma mulher de 71 anos, sem mais nem menos, pois a velhice é a idade da essência, não da circunstância. Quero estar onde estou, porque não posso negar os anos vividos, as coisas conquistadas, as dificuldades para me reconhecer e aceitar, as dores que tanto me ensinaram, as vivências maravilhosas no exercício da profissão e foi com ela que aprendi a ficar feliz com o crescimento alheio.
Eu sou uma velha e não é substituindo a palavra por eufemismos baratos que deixarei de sê-lo; os demais é que mudem suas concepções, pois ao querer substituir as palavras por outras revelam que a imagem é negativa. Pois então o que deve mudar são as cabeças, pois se estas não mudarem não é substituindo os termos da equação que mudarão os resultados.
Aliás, quando meus alunos dizem gentilmente que não sou velha, deslocam-me para a categoria dos jovens e com isso não terão na velhice quem lhes sirva de modelo. E depois gosto da minha categoria, a categoria antiga até porque ela goza das seguintes qualidades: 1.Tem uma escala de valores, isto é, tem ética;não confunde ética com moral; 2. Tem moral, respeita as regras no momento eleitas pela sociedade; 3. Sabe o significado da palavra gratidão e respeito; 4.Não trepa em público e ainda se deixa seduzir pelo amor e 5. Tem brilho no olhar. Prá que mudar.