A minha entidade de classe – CPERS – que ajudei a construir, não mais me representa – este é um lado da questão. O Governo que ai está e no qual não votei, mas me representa, é o outro lado da questão. É dessa contradição e através da velha dialética que tentarei chegar à síntese. Há duas campanhas envolvendo a sociedade atualmente: o X da Educação e Crack, nem pensar e essas duas campanhas são indicadores sensíveis e concretos do perigo que estamos correndo. Nesse sentido, não posso reduzir a questão da Educação ao salário, pois essa questão não diz respeito somente a um segmento ou a mim, mas a sociedade como um todo. Ao me posicionar em relação às questões educacionais atualmente em discussão, não faço mais do que dar meu testemunho e convicção de que a única saída para a maioria de nossos problemas é oferecermos um ensino de qualidade.
Faço isso em nome do futuro dos meus alunos, fiel ao ditado tantas vezes mencionado em aula: “Aprender é sair de si mesmo”;e quem não o fizer, habitará para sempre o país da jurisdição do próprio umbigo.
Negocio, pois, meu baixo salário pelo direito de meus alunos, que acompanhei ao longo de mais de 50 anos de profissão, exercida na UFRGS e na escola pública estadual, escola esta que sofre, hoje, as indefinições e perplexidades vividas pela sociedade atual. A importância do professor não pode ser medida pelos salários que recebe; nossas reivindicações e nossas lutas não devem reduzir-se a estratégias cada vez mais violentas, ou fazer da sala de aula uma arena sindical. O professor é um professor e jamais será substituído por imagens virtuais. O professor É, ponto final.
Fiel a essa certeza, Senhor Governador, acredito em suas intenções e como participante ativa das lutas da minha categoria mencionarei alguns fatos, cuja história parece ter sido esquecida:
l. Plano de Carreira - Envelheceu e está descontextualizado, tornou-se um conjunto de penduricalhos na tentativa de compensar os baixos salários. Deve ser alterado para acolher o novo piso salarial.
2. Bons Concursos – Competência e desempenho, pejorativamente rotulados de “Meritocracia”, devem ser avaliados, sim, pois alunos de uma escola pública empobrecida merecem o melhor!
3. Municipalização do Ensino – Sempre repudiada por alguns professores porque isso iria dividir a categoria, quando na verdade a municipalização responde ao espírito constitucional, o que melhoraria os Planos de Carreira dos Municípios e aliviaria a responsabilidade do Estado.
4. Quadro de Pessoal por Escola, denominado atualmente de “enturmação”, foi uma das solicitações dos professores no Acordo de 80, incluída na 6ª Cláusula, alínea a e ratificada em l985 através da criação de uma Comissão Mista SEC/CPERS, tarefa nunca levada a cabo pelo magistério.
Podemos não concordar com certas posições, mas acusar os demais pelo que não soubemos ou não quisemos fazer é, no mínimo, escamotear a verdade ou ignorar as reivindicações da categoria, ou esquecê-las porque não me favorecem. Se exijo moral e ética dos demais, devo fazer jus a elas. Sou fiel a velha dialética, daí o ditado “Sem autocrítica ninguém avança”.