sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Não confundir Germano com Gênero Humano

Comentário a partir do texto Achar-se importante, de David Coimbra ( Zero Hora, 14 Outubro de 2011)
 Quando um aluno do Curso de Comunicação da UFRGS solicitava um trabalho extra para cumprir determinadas exigências que não havia cumprido, o tema era sempre o mesmo: Os alunos da Comunicação querem ser artistas antes de fazer Arte. Essa situação coincide com o Achar-se Importante do texto de David Coimbra, Zero Hora, 14/10/11 que trata da vaidade de ser jornalista e da facilidade em sê-lo. Quanto à vaidade, concordo com David, quanto à facilidade, discordo em gênero e número.

Não é fácil ser jornalista, quando num Curso de formação, confundem-se Jornalismo com Publicidade ou Relações Públicas. Não é fácil ser jornalista numa sociedade em que o conceito de informação foi substituído pela mídia da imagem que atende mais ao veiculo TV do que ao conteúdo veiculado. A informação esta aí ao vivo e ao alcance do telespectador.
Foi por essa razão que Pierre Bourdieu ( Rio, Zahar, 1997) ao ser convidado para um programa na TV por tê-la criticado, exigiu que as condições de produção – tempo, interrupções, prazos, etc. – fossem definidas por ele, atendendo, assim, as necessidades da informação e não as necessidades do veículo.

Precisamos, sim, de jornalistas, pois o povo em geral ao assistir ao vivo qualquer fato não terá paciência para assisti-lo até o fim e tão pouco saberá sintetizá-lo. Esta é a função do bom jornalista – capacidade de síntese, nível elevado de raciocínio e de pensamento, pois para chegar à síntese é necessário conhecer os dois lados, que sempre existem, e saber somá-los, expressando a contradição.Numa boa dialética: tese, antítese e síntese.A esta manifestação, seja pelo rádio ou escrita, papel ou tela, denomino de imprensa e para esta, sim, reivindico a liberdade de ação.
Está na hora de separar o joio do trigo, de definir os limites entre uma realidade e outra e fazermo-nos entender claramente. A expressão liberdade de imprensa tem sido usadaindevidamente para as mais variadas manifestações que não representam em nada a natureza, ou a matéria que constitui a imprensa. Os conceitos devem ser reavaliados dentro do seu contexto histórico e semântico atual. Além disso, o que se tem observado é que velhas denominações designam situações atuais, ou novas denominações referirem velhos conceitos produzindo, assim, muita ambigüidade e mal entendidos. Por exemplo, direito adquirido, expressão usada como argumento para que o meu direito, independente da evolução dos costumes e das leis, continue o mesmo, apesar de contrariar os direitos dos demais. Portanto está na hora de esclarecermos os conceitos em função do uso que as pessoas fazem deles sem, contudo, saber defini-los. Exemplo, vontade política, moderno, esquerda moderada. Se perguntarmos o que entendem por essas expressões não sabem defini-las, apesar de usá-las como argumento para justificar suas posições.
Se não tomarmos essas providências imediatamente, as possibilidades de entendimento serão cada vez mais escassas e acabaremos numa nova Torre de Babel, pois , apesar de todos os recursos eletrônicos disponíveis, não é o meio que define o sentido e a compreensão, mas, sim, a palavra e o modo de usá-la.
 Porto Alegre, 14/10/2011 Nayr Tesser