segunda-feira, 23 de maio de 2011

Explico

Oi, o texto A Tirania da Verdade ou a Ditadura da Minoria constitui-se de um desabafo contra determinados grupos que, pela sua grande ignorância, acham que tudo teve início com eles, a honestidade, as boas intenções , a reforma agraria, a esquerda, aliás,nem foi necessário ler o manisfesto comunista, nem Marx para identificar o Capitalismo e seus vicíos. São a ilustração mais perfeita de um ditado que costumo repetir: A petulância é proporcional à ignorância.
Na verdade não tenho alimentado o blog e poucos sabem que o tenho.
Abraços, Nayr

A tirania da verdade ou a Ditadura pelo lado inverso

Em todos os setores da sociedade observa-se, ultimamente, uma grande dificuldade em definir limites entre o que desejo e tenho direito e o que, como cidadão, posso pretender. Seja nas relações entre pais e filhos, entre homens e mulheres, entre governo e segmentos sociais. Há uma evidente confusão entre autoridade e autoritarismo, democracia e democraticice, liberdade e libertinagem, disciplina e repressão. O corporativismo de alguns grupos evidencia esta incapacidade de pensarmos como cidadãos, embora a palavra cidadão seja uma das mais utilizadas. Luta-se durante anos contra a ditadura, com esperança e garra, e admite-se em poucos segundos as chamadas ditaduras da minoria, seja pela falta de consciência para com o direito dos demais, seja pelos argumentos usados e/ou pelas estratégias adotadas.
Esse contexto tem favorecido o aparecimento de grupos autoritários, muitas vezes, violentos que se escondem atrás dos movimentos sociais, especialmente os que representam as chamadas minorias, que, pelo modo como reagem a qualquer crítica, parecem os donos da verdade, ungidos por Deus e caracterizados pela infabilidade papal.
Estes elementos que, na verdade, não conseguem definir e nem analisar os objetivos do próprio movimento, protegem-se de qualquer crítica acusando os que discordam de suas estratégias ou a que eles se opõem de preconceituosos. Ao denominar de preconceituosos aos que a eles se opõem caracterizam o argumento contrário como tendencioso e prepotente, anulando-o. Sim, pois o preconceito é um julgamento precipitado de quem desconhece a realidade (daí pré-conceito, antes, anterior ao conceito); centra-se, por conseqüência, na ignorância. Para o preconceituoso existe apenas a sua verdade e, portanto, aquele que não a professa não é digno dos demais e tão pouco poderá gozar dos mesmos direitos.
Impossível negar a existência desse comportamento, porém reduzir todo e qualquer argumento contrário a uma atitude preconceituosa é, no mínimo, simplificar demasiadamente a questão. Aliás, preconceito é atitude, julgamento, enquanto que argumento é razão, evidência. Essa rotulação constante, atribuída a quem contraria minhas idéias ou ações, conseguiu, por inércia ou desconhecimento de quem discorda, criar um espaço extremamente privilegiado contra a oposição: sou uma ilha de coerência e verdade cercado de preconceituosos por todos os lados.
Contudo, diga- se de passagem que essa estratégia, por desconhecimento ou má fé, tem surtido seu efeito, pois não só consegue paralisar o adversário, rebaixando-o, como também impede a discussão e evita o diálogo e a negociação, pressupostos naturais da democracia. Apesar de a maioria ter dificuldade em definir o que é preconceito, ninguém admite tê-lo.Preconceitos – mais ou menos – sempre os teremos; vencemos uns e criamos outros. A diferença é como lutamos contra eles.
Esse comportamento permite inferir que ou todas as manifestações são válidas e suas intenções as mais autênticas, ou, ao contrário, não têm consistência refletindo apenas um autoritarismo exacerbado. Discordar não é mais o direito democrático de não concordar, de opor-se, ter outra estratégia ou interpretação. Hoje discordar é ter preconceito. A este viés tão freqüente nos comportamentos de determinados grupos que, na verdade, não representam a maioria dos militantes, costumo denominar de ditadura da minoria.
Se contrario alguma coisa do discurso feminista, sou tachada de chauvinista;
Se me oponho às estratégias do Movimento dos Sem Terra – MST – sou contra a Reforma Agrária;
Se não concordo com o discurso governamental, sou considerada de direita;
Se alguma coisa do discurso sindical não me agrada, é porque sou a favor dos patrões;
Se não aceito reduzir o movimento gay ao aspecto exclusivamente sexual, é porque sou contra os homossexuais.
Se defendo a norma culta no ensino da língua portuguesa e a gramática tradicional, sou chamada de elitista e ultrapassada.
Enfim, criou-se um espaço ambíguo entre tese e antítese que tem impedido a prática dialética da contestação, produzindo discursos maniqueístas e homogêneos que, por não admitirem as contradições, não chegam à síntese e, portanto, não se renovam. Essa atitude é típica de alguns grupos que se aninham no seio dos movimentos sociais e que, por sua intransigência e belicosidade, acabam definindo o perfil desses movimentos, sem, contudo, representar a maioria dos militantes que, por discordar desse tipo de encaminhamento e pela impossibilidade de com eles dialogar, acabam se afastando. Assim os movimentos tornam-se cada vez mais agressivos, mas absolutamente nada representativos, pois para esses grupos só existe um único ponto de vista e este é o seu. Tudo começa e termina na fronteira de seu corpo e no alcance de seu braço. Se o que lhe é dito não se encaixa nesse horizonte, é porque se trata de preconceito e, portanto, não é digno de crédito. Por outro lado, este tipo de mecanismo alimenta-se mais de estratégias do que de propostas. Na verdade, esses grupos encarnam a filosofia do não e da denúncia, isto é, tem que ter cerca viva pra podar, com um único senão: o que poda não planta, nem propõe.
Essa história de criticar sempre o lugar onde não estou, a profissão que não é a minha, o partido que não freqüento, o governo em que não votei, o filho que não é o meu, é fazer discurso maniqueísta que não leva a síntese alguma, exceto a uma única verdade: a minha. Aliás, “Sem autocrítica ninguém avança”. Só assim se dá o salto qualitativo, seja no tipo de sociedade que se quer construir, seja no sindicato em que atuamos, seja no comportamento como indivíduo e como cidadão. Se isso não acontecer, é quase certo que estaremos construindo uma ditadura pelo lado inverso